"Uma vida pela outra"
Capítulo 1: "A notícia"
O casal que dominava o mundo inferior encontrava-se sentado, cada um em seu próprio trono, enquanto observavam com singelo sorriso de satisfação a entrada de cada vez mais almas em seu reino. Súditos, todos eles. Uma pequena parcela do resultado da batalha de Gaia para dominar o mundo. Não era verídico que o casal sentia satisfação em uma guerra, mas não estava em pleno luto pela perda de tantas vidas no mundo mortal quanto o restante dos Olimpianos. Entretanto, tal alegria fora interrompida por um telegrama que caíra sobre o colo do rei, vindo diretamente de Hermes com uma notícia importante de Zeus. — O que??? Um grito estrondoso ecoou pelo palácio do submundo, assustando até mesmo as próprias almas e estremecendo o local. Era Hades que havia apenas recebido a notícia de que mais de uma dúzia de semideuses havia conseguido sair de seus domínios. Por mais que as portas da morte estivessem abertas, dando livre passagem para aqueles que desejavam ressurgir, não era assim que o rei do mundo inferior via as coisas. Aquilo havia sido um verdadeiro ultraje contra a segurança de seu reino, e haveria uma vingança. Ele conseguiria retomar as almas que lhe escaparam. Ou, ao menos, conseguir novas que fizessem os próprios fugitivos desejarem a morte. Ao contrário da maioria dos deuses, Hades era uma divindade que, quanto mais pessoas viessem a falecer, mais ele tinha a ganhar e não perder. Os olhos escuros do deus varreram o local em plena fúria, mas aquilo não ficaria assim. Não seria ele a iniciar outra guerra, especialmente sabendo que não receberia o apoio do Olimpo que apenas se recuperava do ataque dos titãs. Ele era astuto, sorrateiro e calculista, era a morte. Esperaria até o momento adequado e, quando as coisas estivessem ao seu favor, teria sua tão esperada vingança. Trocando um olhar com Perséfone, lançou à esposa um sorriso ao curvar apenas os cantos da boca que, imediatamente, assentiu em concordância, entendendo o pensamento da majestade dos mortos. E ambos já sabiam exatamente o nome de quem citar para conseguir o apoio de Zeus e, consequentemente, da maioria dos olimpianos: Luke Castellan estava envolvido.
Capítulo 2: "O nascimento"
Suando frio, Thalia segurava a barriga com ambas as mãos na enfermaria, curvando o próprio corpo em agonia. Sua testa, já avermelhada pelo esforço, gotejava sem parar com os fios de cabelos escuros e rebeldes colando em sua face. Já devia estar ali por quanto tempo? Um olhar de relance no relógio da enfermaria indicava que já havia se passado seis horas de contrações. De um lado, Jason e Annabeth se mantinham firmes. A prole de Atena pronunciava, sempre que podia, palavras de apoio e incentivo para a semideusa, assim como fazia a prole romana. Realizando o parto, se encontrava a vice conselheira do chalé de Apolo, Rebekah Mikaelson que estava posicionada de frente para as pernas abertas de Thalia, encobertas pelo lençol. Com um sorriso iluminado, a prole do Sol fitou de canto os presentes, falando em um tom comemorativo. — A cabeça já está vindo. Em seguida, voltou a se concentrar no nascimento do bebê, deixando o apoio para os presentes. Luke, no entanto, estava do outro lado da filha dos raios, envolvendo seus ombros com um dos braços e um sorriso ansioso no rosto que só se fez aumentar assim que Thalia tombou com a cabeça no travesseiro, lançando-lhe um olhar mortífero. — Se me fizer passar por isso de novo, eu te mato, Castellan! Erguendo o pescoço mais uma vez para fazer força, ao final da contração o choro estrondoso e temperamental de um bebê ecoou pela enfermaria, anunciando por si só que o legado de Zeus e Hermes havia nascido. Enrolando o bebê em um pano, Rebekah realizou os primeiros procedimentos e, imediatamente, levou para a mãe que já se colocava sentada na maca, exausta pelo esforço descomunal. Um sorriso raro se brotou na face não apenas de Thalia e Luke, mas também de Annabeth e Jason ao observar a menina que já remexia os braços de forma descoordenada, abrindo os olhos de um azul tão elétrico quanto o dos irmãos Grace. O olhar zeloso de Jason e Luke estavam sobre a pequena que causava risadas bobas nos pais e no tio, mas os olhos atentos da prole da Sabedoria haviam captado algo que ninguém ali havia percebido. Alguém parecia observar aquela cena rara de um canto da enfermaria, oculto nas sombras. Entretanto, tão logo Annabeth fez menção de se aproximar, a mesma desapareceu. Decidida a não estragar aquele momento de plena felicidade tão difícil de se conseguir na vida de semideuses, Annabeth optou por contar o que havia acontecido no dia seguinte e a reação de choque fora unânime entre os outros três. Porém, haviam tomado como meta garantir que a pequena Annie May pudesse ter a vida normal que os quatro sempre desejaram. A criança cresceria no acampamento, junto dos padrinhos e dos pais que a protegeriam de qualquer informação sobre aquele acontecimento.
Capítulo 3: "A vingança divina"
Um cavalheiro, de armadura completamente feita de ferro Estígio adentrava a passos largos no corredor do palácio do mundo inferior que levava até a sala dos tronos. A cada passada, o eco anunciava sua aproximação, sem hesitação. Havia feito de acordo com o combinado para que sua— pena no tártaro fosse reduzida. Parando diante do trono de seus reis, o cavalheiro armado se apoiou com um dos joelhos no chão e abaixou a cabeça em uma reverência, demonstrando seu respeito pelas divindades. Então, a voz grossa saiu pelo elmo, com olhos escuros como o breu espiando pelas frestas da proteção. — A criança nasceu. É uma menina. Os dedos frívolos e ossudos de Hades retumbavam no braço do trono de ossos quando um sorriso se formou por debaixo da barba densa e desalinhada. Sua vingança estava tramada. Ao seu lado, Perséfone parecia com um pé atrás sobre a parte do plano de envolver uma recém-nascida nas compensações de seu marido, mas nada podia dizer no momento, pois sabia que a ideia do marido não mudaria. Ele tomaria a alma da menina no lugar da vida de Luke Castellan, como forma de castigá-lo pela sua fuga. Porém, a rainha não estava disposta a colaborar.
Capítulo 4: "Presente dos deuses"
O tempo de Perséfone no submundo havia acabado já e ela se encontrava na primeira oportunidade que tivera de estar diante de Zeus e dos olimpianos. Contando aos deuses o plano maléfico de Hades e que, a essa altura, ele provavelmente já teria reunido aliados para matar o legado de Zeus e Hermes, a deusa causou um alvoroço nos presentes. Em quase todos, com exceção de Hera que parecia ter um fundo de diversão no seu olhar, observando o destino trágico que aconteceria com a menina. Dando um basta na discussão, Zeus voltou o olhar para Atena esperando alguma sugestão sobre como proceder para que a ira de Hades não caísse sobre uma inocente criança que acabara de nascer. — Meu pai, o senhor conhece as regras. Não podemos intervir nas decisões dos outros deuses. A não ser que… Uma ponta de esperança surgiu no ambiente e uma troca entre prole e progenitor se fez presente. Zeus sabia exatamente o que fazer. Jamais poderia proibir Hades de ter sua tão desejada vingança pela fuga de Luke Castellan, mas um presente seria dado para a menina que não faleceria até seus dezoito anos. A imortalidade a acompanharia até que tivesse plena capacidade de se defender sozinha das investidas de seu irmão, proibindo qualquer um dos deuses de comentar com uma pessoa sequer o que acontecera naquela reunião. Aos poucos, cada um foi se desfazendo em nuvens de fumaça distintas, restando apenas Hera na sala dos tronos que, com uma risada gutural, fitou o trono do rei do Olimpo que já havia saído e se levantou de forma pomposa, esvaindo-se no ambiente. Seria ela o elo fraco daquele pacto entre os olimpianos? Apenas o destino seria capaz de dizer. |